Com quase R$ 1 trilhão em ativos sob gestão, sendo a maior parcela ainda na renda fixa, e com uma taxa básica de juros bem abaixo do padrão histórico, boa parte dos fundos de pensão não conseguiu superar as metas de retorno estabelecidas em 2020.
Segundo dados consolidados pela consultoria Aditus, que consideram a base de clientes de 119 fundos de pensão com R$ 250 bilhões em investimentos no mercado, a rentabilidade média das carteiras ficou positiva em 7% em 2020, bem acima da variação de 2,7% do CDI e da alta de 2,9% do Ibovespa.
Nesse grupo, a alocação em renda fixa ainda é de aproximadamente 80% dos portfólios, com apenas 10% em renda variável e cerca de 2%, em ativos no exterior. Tiveram, contudo, algumas exceções no ano passado, principalmente entre os maiores fundos de pensão do país, que já iniciaram o processo de diversificação das carteiras.
Juntas, as três maiores fundações do país – Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa) – representam quase 40% de todo o sistema, com aproximadamente R$ 400 bilhões em investimentos.
Com exposições acima da média do setor em renda variável, os três fundos indicam ter alcançado suas respectivas metas atuariais em 2020, especialmente por conta da forte alta da Bolsa nos últimos meses do ano passado. Principalmente resultados fantásticos atingidos pelas ações da VALE- Cia Vale do Rio Doce.
Raio X dos 4 maiores fundos de pensão do Brasil
*Número considera participantes ativos (que seguem em atividade), dependentes e aposentados
**Rentabilidade e meta atuarial até setembro, no caso da Funcef, e até novembro, na Previ
Fonte: Abrapp e fundos de pensão
Na FUNCEF os sucessivos resultados dos investimentos acima da meta atuarial nos últimos quatro anos provocaram a redução de déficits anteriores dos planos de benefícios. A fundação alcançou rentabilidade global de 13,78% dos ativos em 2020. O resultado permitirá a redução média de 17% nos valores das contribuições extraordinárias pagas pelos participantes do REG/Replan Não-Saldado a partir da folha deste mês de abril, segundo informações do Diretor de Benefícios da Funcef, Délvio de Brito.
As duas modalidades do REG/Replan encerraram 2020 com a maior rentabilidade em 10 anos – 16,60% no Saldado e 14,11% no Não Saldado –, batendo com folga a meta de 10,19%. O Diretor de Benefícios lembra que a Funcef passou por um período de dificuldades, com sucessivos resultados negativos desde 2011, e que culminaram em 2014, com um déficit a ser equacionado para o plano Reg Replan Saldado. Esse mesmo plano passou por outros equacionamentos em 2015 e 2016 para cobrir déficit que chegou a R$ 19,3 bilhões.
Com isso, a contribuição extraordinária é de 19,73% dos benefícios. Neste plano, o déficit que precisa ser eliminado para possibilitar a revisão das alíquotas de equacionamento caiu de R$ 2,17 bilhões, em dezembro de 2019, para R$ 197 milhões, no final do ano passado. “Houve uma grande redução do déficit do plano saldado. Faltou pouco para reduzir as contribuições deste plano. Esperamos superar as metas novamente para que no próximo seja possível começar a reduzir os aportes em 2022”, comenta Délvio.
Já o Reg Replan Não-Saldado passou por dois equacionamentos em 2015 e 2016. As contribuições extraordinárias variaram de 2,5% e 38% dos benefícios. E agora começa um processo de redução dos aportes. “Houve uma mudança enorme na governança da entidade. Foram corrigidos problemas anteriores e isso refletiu nos resultados favoráveis desde 2016”, conta o Diretor de Benefícios.
O dirigente explica que os novos diretores eleitos em 2014 e aqueles indicados em 2016 fizeram um trabalho para a redução e controle do risco dos planos e dos investimentos. “Foi realizada uma grande mudança na política de investimentos. Ocorreu a redução dos investimentos com problemas, com a consequente melhoria da rentabilidade”, diz.
Desafios – O Diretor de Benefícios explica que há um longo período pela frente para a reversão de déficits anteriores. Com o cenário de juros mais baixos dos ativos, a superação das metas atuariais é cada vez mais desafiadora. “Os desafios são inúmeros hoje, mas atualmente a entidade está mais preparada para reduzir o ônus para os participantes”, comenta Délvio.
Para isso, será necessário promover maior diversificação de investimentos, em conjunto com a gestão técnica para a redução dos riscos. Délvio lembra que para os planos mais maduros da entidade, o nível de alocação de maior risco é mais limitado. Ele recorda que em 2017, a entidade promoveu a redução das metas atuariais dos planos. A obtenção de resultados acima das metas permitiu a redução das metas sem a necessidade de novos aportes dos participantes.
Fontes: Infomoney e Abrapp